23 de agosto de 2009

Nota do Clube Militar

Rio de Janeiro, 12 de agosto de 2009
Os reflexos da indignação
Publico aqui com a necessária isenção a nota do Clube Militar, assinada pelo general Gilberto Figueiredo, sobre a crise moral que abala o País. Independente de suas opiniões, é preciso ficar claro que o comportamento canalha dos políticos vai somar na mesma indignação pessoas de pensamentos e visões diferentes.Porque a corrupção como modus operandi num regime de direito é a mais irresponsável ferramenta para a sua liquidação. Nada justifica a impunidade dos corruptos. Nenhuma ambição pessoal, nem projeto partidário pode se sobrepor à saúde moral de um País que se torna inviável pelo alto custo das propinas e da roubalheira. Veja o que diz a nota do Clube Militar:
Pedro Porfírio
EM SE COMPRANDO TUDO DÁ. VOTOS
Os homens são tão simplórios, e se deixam de tal forma dominar pelas necessidades do momento, que aquele que saiba enganar achará sempre quem se deixe enganar. (Maquiavel)
Nunca na história deste País se fez tão pouco caso da honra, de tal maneira se desprezou a ética, tanto se usou de meios escusos para corromper, para enlamear instituições, para comprar consciências. A amarga sensação que fica é a da total perda, por parte de um grande número de homens públicos, de qualquer noção de honestidade, de dignidade, de honradez. O atual governo, contrariando todos os princípios apregoados enquanto estava na oposição, abandonou completamente o decoro no trato da coisa pública e partiu para o uso de um verdadeiro rolo compressor, comprando tudo e todos a sua volta, desde que possam, de alguma forma, interferir em seus objetivos.Recordemos o esquema do mensalão, quando um grupo de aliados do Presidente, gente de dentro do governo, usou meios escusos para organizar a maior quadrilha jamais montada em qualquer lugar do mundo, com o objetivo de comprar o apoio de parlamentares e, em última instância, perpetuar no poder seu grupo político. O então Procurador geral da República, Dr. Antônio Fernando de Souza, apresentou uma denúncia contundente contra os principais envolvidos no escândalo. Ficou de fora o Presidente da República que alegou desconhecer o esquema. Em termos jurídicos, a desculpa valeu. O Procurador geral retirou-o da denúncia por não ter encontrado evidências firmes de seu envolvimento. Agora, firulas jurídicas à parte, parece pouco provável que alguém, dotado de capacidade de reflexão, tenha acreditado na história. A ser verídico o desconhecimento, cairíamos na dúvida que, à época, circulou na internet: Será que temos um Presidente aparvalhado, incapaz de entender fatos que acontecem ao seu redor, protagonizados por seus mais íntimos colaboradores? Em outra vertente, há o Bolsa Família, sem dúvida o maior programa de compra de votos do mundo. Trata-se de um programa que gera dependência, antes de estimular o desenvolvimento humano. As pessoas atendidas, recebendo o benefício sem nenhuma necessidade de contrapartida, ficam desestimuladas até de buscar emprego. Mesmo a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) chegou a afirmar que o programa "vicia" e que deixa os beneficiários "acomodados". Não é que alguém seja contra a minorar a aflição de quem tem fome. O problema é que o programa parte de uma premissa falsa ao confundir pobreza com fome. A esses últimos é mais do que justo assistir com recursos públicos. Aos pobres, a melhor ajuda que o governo poderia dar é investir corretamente em educação. Mas não, confundindo conceitos, prefere manter um Bolsa Família hiperdimensionado, gastando recursos que fazem falta à educação, uma vez que, assim como está, o retorno nas eleições, em termos de votos, tem sido muito compensador. A comprovação de que não são todos os pobres no Brasil que estão famintos veio de uma pesquisa do IBGE, realizada em 2004 - Pesquisa de Orçamentos Familiares. Em uma parte dessa pesquisa, ficou constatado que o índice de pessoas abaixo do peso estava menor do que aquele considerado normal pela OMS. E, para a perplexidade dos que acenam com a necessidade de combater a fome para manter e ampliar o programa, verificou-se que, entre nós, a obesidade é um problema mais crítico do que a fome. Não satisfeito em aliciar parlamentares para sua base de sustentação política e populações desassistidas para aumentar suas possibilidades eleitorais, o governo trata, também, de evitar qualquer problema nas ruas, em termos de manifestações públicas de desagrado contra os muitos desvios de ética praticados por seus correligionários e aliados. Nada melhor, então, do que colocar a União Nacional dos Estudantes igualmente em seu balcão de negócios. É assim que o governo, da mesma forma que faz com sindicatos, resolveu patrocinar a UNE. As verbas federais, dessa forma, passaram a irrigar o movimento estudantil, seja em termos de patrocínio, como aconteceu em seu último congresso nacional, seja com a destinação de alguns milhões para a reconstrução de sua sede, seja, ainda, com o pagamento de generosas "mesadas" a seus dirigentes. Com isso, foi neutralizado o espírito combativo que era a marca do movimento estudantil e eliminou-se toda possibilidade de agitações de rua indesejáveis. Um exemplo disso ocorreu no referido congresso, quando houve um protesto contra a CPI da Petrobras. Em outros tempos, seria a UNE a primeira a se mobilizar para exigir a completa elucidação dos fatos. Agora, sem sequer conhecer os resultados de uma CPI que nem começou, faz o protesto. Passam por cima da necessidade de se investigar denúncias de irregularidades em uma empresa cujo maior acionista é o governo, em um congresso que era patrocinado por esse mesmo governo. E o presidente da UNE tem a desfaçatez de dizer que não vê nada de errado nisso. Com a prática da compra indiscriminada de todos que possam atrapalhar os desígnios do governo, este foi perdendo todos os escrúpulos. Conseguindo manter níveis elevados de popularidade, julga-se acima do bem e do mal, capaz de tudo, inclusive de defender crimes praticados por aliados, pouco se importando com a ética e com a moralidade pública. Pouco se importando com a evidência de que está corrompendo os brios de toda uma nação que, em um dia não tão distante, teve orgulho de se proclamar brasileira.


Gen Ex GILBERTO BARBOSA DE FIGUEIREDOPresidente do Clube Militar

3 comentários:

  1. Prezado amigo Fernando Maleski e leitores desse blogue. Paz e Bem!
    Lemos, sempre, com grande preocupação, matérias como essa, exarada pelo Clube Militar, termômetro afinado com as temperaturas e pressões da República. É um indicativo seguro de que as coisas vão mal, muito mal.O pior de tudo é o exemplo gerado em Brasilia que passa por Curitiba e chega à Cascavel. Temos visto, nos últimos dias, aqui em nossa cidade, verdadeiro festival de mentiras, de interesses escusos, de políticos que querem chegar ao poder, apenas para roubar, já roubaram no passado, roubarão no futuro. O desfile de maus exemplos não para de passar pela avenida. As compras de votos, agora legalizadas pelas "ajudas" do governo, atestam que estamos mal orientados e pior de tudo: calados! a Democracia feita nesses moldes, de roubalheiras, impunidades, compras e vendas de partidos políticos, uniões expúreas, tornam nosso país numa panela de pressão que poderá vir explodir, depois, pouco ou nada adiantará chorar, protestar. É preciso buscar urgentemente pessoas serias, com políticas sérias para que se evite o pior. Democracia com esssa baderna, essa podridão, será o caminho pavimentado para um regime de força. Pensemos nisso. Um abraço do elcio

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  2. Caro Maleski:
    Claro que não aprovo o que está acontecendo.
    Os militares adoram o poder. Castelo Branco queria restabelecer a ordem e devolver o poder aos civis.
    Foi pressionado pelos militares a renunciar e até sofreu ameaça de atentado.
    Ficaram 20 anos no poder num regime obscuro. Caíram em função das manifestações populares.
    Acredito que se o Castelo conseguisse seu intento, os militares, hoje, teriam mais credibilidade.

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  3. Só pode ser sacanagem, um milico reclamando que a UNE não sai as ruas para reclamar das sacanagens que ocorrem em BRASÍLIA mas que ja aconteciam na ditadura só que o povo não ficava sabendo, e de bolsas famílias que tem posto na mesa de muita gente alimento e dignidade, alias gente esta que em um passado recente morava em pequenas propriedades rurais e foi em pleno governo milico que foram expulsos de suas propriedades e iniciaram o êxodo rural indo parar em favelas, marginalizados.Alias terras estas que foram parar nas mãos de apadrinhados dos milicos em seus "grandes" projetos agrícolas. Milicaiada da UDR e de tantos outros movimentos de lesa povo.
    A vida é assim mesmo antes a milicaiada eram os donos da "moral", mas assassinavam nos porões do DOI CODI DOPS ou em qualquer outro lugar longe das vistas do povo(imprensa) para manter a "lei e a ordem".As muitas mães perguntam CADE O MEU FILHO!
    Milico para falar em decência, moral, etc,etc, tinham que sair do Haiti pois estão sendo moleques de recado para o império estadunidense, deveriam ir ao país amigo PARAGUAI e pedir desculpas pelos horrores que o"VALOROSO" exercito de outrora cometeu com uma nação inteira na guerra do Paraguai passando a fogo de bateria de canhões crianças de 10,11,12 anos e das crianças não houve um sobrevivente sequer pois o que os canhões não mataram se calaram nas baionetas dos valorosos "militares defensores da pátria", e pior ainda estavam a serviço do capital Inglês como lacaios.E tudo isso não sou eu que digo mas sim a HISTORIA, que serve para absolver e para incriminar, bem apropriado para o momento.
    E citar maquiável é bem apropriado para o milico pois segundo o filosofo.
    OS FINS JUSTIFICAM OS MEIOS.

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