13 de março de 2010

PERDEU, PLAYBOY


A SEGURANÇA PÚBLICA COMO ELA É

Lenita Carvalho


Gostaria de relatar, para avaliação pessoal dos leitores, algo que aconteceu ontem, segunda-feira, no centro de Cascavel. Era o tal do dia Internacional da Mulher, por volta das 19 horas. Dois homens, na faixa de 20 anos, se aproximaram de minha filha, na rua Paraná, quase esquina com a Travessa Cristo Rei.Um terceiro, assistia a cena de perto, montado numa bicicleta. Segurava, ou simulava segurar, uma arma, sob a camiseta. Os dois indivíduos se aproximaram, a encurralaram contra a vitrine de uma loja e tomaram o celular que ela tinha em mãos e a bolsa,contendo,além de documentos e diversos pertences, todo o salário do mês, dobrado ainda junto ao holerite. Assustada, ela correu até um restaurante nas proximidades e pediu para chamarem a Polícia Militar. O telefone 190 só dava sinal de ocupado. Quando finalmente chamou, cerca de 10 minutos depois, a atendente pediu para que a vítima de assalto esperasse no local do ocorrido. Foram 40 minutos. Alguém aí acredita que uma viatura da Polícia Militar demorou 40 minutos para vir da rua Olavo Bilac,esquina com rua da Bandeira( sede da PM local) até a rua Paraná, esquina com a Travessa Cristo Rei? Em ritmo de caminhada normal, o trajeto pode ser feito em cerca de 10 minutos. Obviamente, a vinda da viatura foi inútil. Os dois policiais fizeram algumas poucas perguntas e entregaram a vítima de assalto uma lauda onde não constava, repito,não contava, horário, nome dos policiais atendentes, resumo do ocorrido, descrição dos meliantes, nem sequer data, muito menos nome da vítima ou número de qualquer documento pessoal. “Parabéns” à Polícia Militar. O trabalho ostensivo que esta Instituição tinha que fazer,não fez, pois até as criancinhas do pré-primário sabem que no período de pagamento dos funcionários do comércio, a vigilância teria que ser multiplicada na área central. Os assaltantes,espertos, também vêem nesta faixa do mês,entre dia 05 e dia 10, o período de coleta de seus soldos. E ficam à postos. Ou isto é novidade? Continuando a novela da vida real, hoje pela manhã, dia 09, fomos à 15ª SDP para lavrar a ocorrência. Aí, fechou-se o círculo da ineficiência do atendimento das Polícias às vítimas de bandidos. O atendente,atrás de uma portentosa divisória de vidro, sem mostrar mínimo interesse pelo drama vivido pela cidadã à sua frente, quase casmurro, de olhos baixos o tempo todo, pediu o papel expedido pela PM e passou dali a copiar os dados, digitando silenciosamente, sem fazer uma pergunta sequer.Quebrando o longo silêncio, a vítima do assalto, questiona se poderia acrescentar alguns itens que estavam na bolsa, pois no nervosismo da hora em que foi atendida pela PM, havia esquecido objetos importantes que estavam na bolsa e acabaram sendo levados. - Por que não falou antes de eu mandar imprimir? – praticamente rosnou o atendente, entregando-lhe uma folha de papel sulfite com cópia da queixa e encerrando a conversa. Nem mais, nem menos. Não houve entrevista alguma para que a Polícia Civil de inteirasse melhor do ocorrido, não lhe foi oferecido um álbum de fotos para algum eventual reconhecimento.A queixa registrada na PC foi então só um pró-forma. Mais um arquivo virtual para entulhar a o sistema. O que começou mal com a Polícia Militar, sem agilidade ( 40 MINUTOS!!!)sem detalhamento, sem interesse, teve seu epílogo Polícia Civil adentro, sem inteligência, sem tratamento humanizado, sem respeito algum ao cidadão. Eu,que acompanhava a vítima do assalto, senti que tínhamos nós sim, tratadas como criminosas. Neste quesito, inclusive,louvo aos jovens assaltantes. Que na sua anti- ética de ladrões,foram decentes ao não partir para a agressão física, nem verbal. Quanto à Segurança Pública do Paraná, dado o relato acima, fica a sugestão: faça-se uma licitação gigante para prover as Polícias e garantir que cada cidadão vítima de banditismo, ao prestar queixa, ganhe de brinde,como consolo, ao menos um nariz de palhaço, daqueles vermelhinhos e carimbos, como aqueles oferecidos às crianças nos dias de vacinação. A inscrição do carimbo, que , sugiro, pode ser cravada na testa do “contribuinte –vítima” pode ser em letras maiúsculas,com os dizeres: “Perdeu, Playboy!”. Per-deu- play-boy. Pronto,vai pra casa e conta os prejuízos. Ou você espera que com um atendimento deste nível,alguma vítima possa reaver os seus pertences ou os marginais possam ser identificados e colocados na cadeia algum dia ?


* Lenita Carvalho é jornalista e assessora parlamentar em Cascavel.