14 de abril de 2010

OPINIÃO


Cooperativismo: a ponte entre

a pobreza e a prosperidade

Gestado em um contexto de carência extrema, no qual a transformação econômico-social em andamento gerou milhões de trabalhadores pobres e explorados, colocando em evidência a brutal desigualdade entre classes – burgueses e proletários, o cooperativismo se transformou em um caminho alternativo à conjuntura desoladora das insalubres fábricas, berço da Revolução Industrial.
A riqueza que levou a Inglaterra a prosperar foi gerada pelas mãos de milhares de camponeses que migravam para as cidades em busca de trabalho. Se de um lado, proporcionava o acúmulo de capital nas mãos dos detentores dos bens de produção, por outro, a Revolução Industrial gerava o crescimento desordenado de uma camada social mal remunerada e indigente.
O ideário da doutrina cooperativista, que nascia em 1844, no período de franca expansão da industrialização na Europa, era a união de pessoas voltadas para um objetivo comum – o bem que as levasse a uma melhor qualidade de vida, abastecesse suas casas de alimentos, promovesse a todos em iguais condições a saúde, a moradia e a educação. Necessidades básicas que o modelo de desenvolvimento da época não lhes dava oportunidade de alcançar.
Um ideal inusitado e utópico, na visão de muitos. Porém, 166 anos após a criação da primeira sociedade cooperativa (Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale) na minúscula cidade inglesa de Rochdale, berço da Revolução Industrial, a doutrina cooperativista tem sido capaz de construir novas relações sociais com base na união e no objetivo comum. Em pleno Século XXI, 800 milhões de pessoas participam de alguma organização cooperativa e outras três bilhões estão ligadas ao sistema por meio de suas famílias ou de seus trabalhos em dezenas de países.
Embora as cooperativas modernas sejam muito mais complexas que a sociedade dos Pioneiros de Rochdale, os princípios cooperativistas escritos em 1844 ainda vigoram e são as bases do cooperativismo contemporâneo. Entre eles, encontram-se a ajuda mútua, igualdade, equidade, solidariedade. Princípios que norteiam ações com vistas a reduzir os crônicos problemas sociais. Naqueles estados brasileiros onde a doutrina foi introduzida pelos imigrantes europeus e encontrou ambiente fértil para prosperar, é possível perceber avanços significativos na qualidade de vida da população.
O setor agropecuário, por exemplo, responsável por 80% do valor gerado em todos os 13 ramos do cooperativismo, tem sabido aproveitar o melhor desse modelo econômico-social e os resultados evidenciam o sucesso dessa parceria. Existem hoje no Brasil 1.615 cooperativas agropecuárias que congregam cerca de um milhão de produtores rurais e empregam aproximadamente 140 mil pessoas.
No meu estado, o Paraná, em dez anos, o setor cooperativista saltou de um faturamento anual de R$ 6 bilhões para R$ 25 bilhões – um crescimento expressivo de 416%. Considerando o número de associados, as 238 cooperativas do Estado saíram de 191 mil para 535 mil cooperados e empregam hoje cerca de 1,25 milhão de pessoas. Em 2009, o setor realizou mais de 3,3 mil eventos voltados para os cooperados.
As Cooperativas são, portanto, organizações capazes de enfrentar as adversidades. Progredindo o lado econômico, o desenvolvimento social prosperará. É um modelo de desenvolvimento de geração de emprego e renda que põe em prática um importante princípio: a união de pessoas voltadas para um objetivo comum.

Eduardo Sciarra
Deputado Federal