7 de janeiro de 2010

ELE É UMA VERGONHA - Caso Boris Casoy


Isto, sim, é uma vergonha!

Diariamente vemos cidadãos que se propagam arautos da moral, batendo no peito e dizendo serem os verdadeiros porta-vozes da liberdade de expressão. Porém grande parte deles esconde dentro de si um ranço muito forte de preconceito de todos os sentidos, seja ele, xenofóbico, homofônico, ideológico ou de classe social.
Mas como o destino é o senhor do tempo e costuma fazer ele próprio sua ‘justiça divina’, algumas máscaras demoram, mas tendem a cair, expondo esse preconceito acentuado, com ataques gratuitos e maliciosos.
Há alguns dias, na virada de ano, alguns foram pegos de surpresa com uma declaração do jornalista Boris Casoy. Numa atitude de total preconceito, o apresentador do Jornal da Band decidiu ‘achovalhar’ a classe dos garis e varredores de rua, representadas numa matéria jornalística por dois trabalhadores que desejavam um feliz 2010 aos telespectadores da renomada emissora.
Para os que não sabem, vale a explicação rápida da ‘gafe do Boris’. Após a vinculação da matéria, enquanto vinhetas eram transmitidas, eis que o nobre apresentador faz o seguinte comentário com sua equipe: “Que merda! Dois lixeiros desejando felicidades do alto das suas vassouras... dois lixeiros... o mais baixo da escala de trabalho!”. A ‘m... de declaração’ virou sucesso na internet e pode ser acompanhada no Youtube.
Também disponível no Youtube, mas sem tanto sucesso, está o dia seguinte, o ‘arrependido’ âncora pedindo uma ‘desculpa técnica’, ressaltando o áudio que vazou, mas não mostrando sinceridade, preferindo citar o fato técnico e esquecendo de reconhecer que foi preconceituoso, resumindo todo o fato como uma mera ‘frase infeliz’.
A declaração de Boris ganhou eco e o apresentador terá que responder pela ofensa. O Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Prestação de Serviços e Asseio e Conservação e Limpeza Urbana de São Paulo (Siemaco), por meio de seu presidente, já avisou que a entidade irá entrar com uma ação civil pública contra o jornalista. O sindicato quer uma retratação na Justiça, uma retratação de verdade, não como a do ‘Boris do dia seguinte’.
Voltando ao terceiro parágrafo, quando é citado que ‘alguns’ se surpreenderam, vale explicar que a ‘infelicidade’ de Boris acaba não surpreendendo uma parcela de profissionais do mesmo meio que o ‘famoso âncora’, pois ela espelha a forma como grande parte da imprensa enxerga tudo ‘do alto de um poliedro social’, desqualificando pessoas, movimentos populares, classes sociais e, nesse caso, classes profissionais.
‘Infelicidade’ é acompanhar alguém que após tentar se imortalizar como ‘justiceiro’, com seus famosos bordões como “Isso é uma vergonha” e “É preciso passar o Brasil a limpo”, mostrar não apenas o seu, mas o lado sujo de uma parcela da mídia que leitores, ouvintes e telespectadores – assim como faz um valoroso gari – devem varrer para bem longe junto com sua ‘mais baixa escala de caráter’.
Assim, cabe a ‘massa pensante’, como sempre alertada por este espaço, depurar tudo que ouve, ‘vê’ e escuta na imprensa. Tanto uma parcela da imprensa como da classe política age como se o povo fosse total e irreversivelmente ignorante, realidade que vem mudando pela própria facilidade de acesso à informação. Nunca, jamais, se deve desprezar a sabedoria popular que, é como a própria Justiça, ‘tarda, mas não falha’!

Júlio César Carignano
Editorial Gazeta do Paraná (07-01-10)