2 de outubro de 2009

PÃO, CIRCO E PASTELÃO!


Cultura criada ainda na história política do Império Romano, antes de Jesus Cristo, a política do “Pão e Circo”, tinha por objetivo promover espetáculos, encenações, lutas entre gladiadores, no sentido de desviar a atenção da população que habitava o reinado romano. O intuito era manter os plebeus afastados da política e de questões sociais. Em suma, uma maneira de manipular a plebe e mantê-las longe de decisões do governo, tomadas à quatro paredes. Ao mesmo tempo dessas decisões, os Césares alimentam o povo, lhe distraindo, além das encenações com muita comida, popularizando o chamado “Panis et Circenses”, que depois imortalizado em canção da banda Os Mutantes. Enfim, o povo era cooptado pelo riso e pela barriga.
Já a “Comédia Pastelão” foi um gênero criado antes dos anos 20, na fase do cinema mudo, tinha como característica “películas” de riso fácil, cenas como escorregões e tropeços, tortas na cara, ou em outros casos, tragicomédias, pois brincam com situações sérias do cotidiano popular.
Apesar de culturas antigas, engana-se quem pensa que tanto o “Pão e Circo” quanto o “pastelão” estão fora de moda, pelo contrário eles continuam dando o tom em outra área, numa versão “não tão cultural” impregnando nossa política e sociedade.
O novo híbrido entre o pastelão e pão e circo está super vivo e pode ser acompanhado no “centro cívico” de nossa cidade. É uma pena – ou não – que nossa população não acompanhe os atos de nossos representantes, pois bastaria uma passadinha de dez minutos em um período de sessões do nosso parlamento para verificar a manifestação do conjunto entre a política romana milenar e a cultura criada no início do século passado.
Trapalhadas, gracejos, gafes, manobras, armadilhas, enfim, encenações para todos os tipos e gostos. Outra coincidência entre o Legislativo e a comédia pastelão é o desrespeito entre colegas. Quem não lembra de Stan Laurel e Oliver Hardy, os clássicos Gordo e Magro - que apesar de inseparáveis - arrancavam gargalhadas quando se esbofeteavam em cena. A nova versão do clássico é recheado de arapucas contra colegas – como na recente situação do PPA e agora também no pacote tributário – sem contar o desrespeito quando um colega está falando ou gracejos com os espectadores da plenária e até mesmo falta de quorum em interesse público.
Mas como espetáculo só sobrevive com um público e o pão e circo só se propaga com uma platéia doutrina e domesticada, não faltam os “macaquinhos de auditórios”, obrigados a ficarem até o final da tragicomédia, pagos para rir das palhaçadas alheias, ou melhor, da cara do eleitor e da população, que apesar de não pagar ingresso para assistir, não sabe o quanto tudo isso pode custar caro para sua realidade, pois assim como já disse Os Mutantes em outrora, os domesticados da “sala de jantar estão preocupados apenas em nascer e morrer”, e não em mudar todo esse estado de coisas.


Júlio César Carignano
É jornalista e escreve no jornal Tribuna das Cidades