23 de maio de 2010

ARTIGO ÚTIL - GUARDA CHUVA


Vale à pena assumir o risco?

* Pedro Guilherme G. de Souza

A leitora levanta-se de sua cama em um dia qualquer do mês de abril e observa longe, no horizonte, uma nuvem carregada. Toma seu banho e antes de sair de casa, olha novamente na janela. Percebe que aquela nuvem está cada vez mais próxima e escura. Surge a primeira crise de seu dia: apanhar ou não seu guarda-chuva? Pensa: “arrisco me molhar ou levo esse objeto pesado e desengonçado que não combina com nada?”
A escolha de levar ou não o guarda-chuva carrega em si muito da cultura do povo brasileiro, que confia e aposta na sua elevada capacidade de improvisação e na certeza de que há um jeito para tudo, até para desviar da chuva. Comportamento semelhante não seria esperado em culturas mais tradicionais, que entendem que se sacrificar ou perder um pouco faz “parte do jogo” para evitar o mal maior, ainda que este possa nunca ocorrer.
A análise do mercado segurador replica este padrão de comportamento. O brasileiro tende a subestimar o risco ou a superestimar sua capacidade de superá-lo e opta por arriscar a perda de um bem ou por enfrentar uma situação desconfortável, no lugar de contratar seguro.
A regra, como sempre, comporta exceções. No mercado de seguros automotivos, o brasileiro ainda prefere suportar o preço do seguro a cogitar a dor da perda, total ou parcial, de seu veículo. Talvez neste caso a exceção se deva muito mais ao amor do brasileiro por carros que por outro motivo. O que importa é que, no caso do automóvel, o mercado segurador captou este padrão de comportamento e se estruturou para atender da melhor forma as vontades de seu consumidor.
O processo de amadurecimento da sociedade brasileira, talvez acelerado por fatores externos como mudanças climáticas, riscos de epidemias etc., aponta para uma tendência de modificação deste padrão de comportamento em outros setores, com sensíveis reflexos em ramos de seguros distintos como saúde, de residência e de bens em geral, como os seguros de garantia estendida de produtos.
O aumento na contratação de novos tipos de seguros reduz a exposição dos brasileiros e da sociedade brasileira como um todo a riscos de prejuízos por perda ou danos patrimoniais, que muitas vezes trazem consequências sociais severas. Além disso, nota-se uma redução nas situações de conflito, uma vez que a contratação de seguro não implica somente a certeza de ressarcimento da perda material sofrida, mas também a garantia de tranquilidade do segurado que aciona a garantia contratada e se livra de ter que correr atrás da solução do problema.
Assim como a dúvida inicial de nossa leitora afasta-se com a aquisição de um leve e belo modelo de guarda chuva, que será sempre e sem qualquer dúvida carregado, novas opções de seguros reduzem a exposição do brasileiro e de seus bens a riscos desnecessários.

* Pedro Guilherme Gonçalves de Souza é formado em Direito pela Universidade de São Paulo. Atua na área de Direito Público e Direito Securitário.

16 de maio de 2010

CAMPANHA VIRTUAL


As eleições e a internet

*Por Andrea Dunnningham

Pesquisa recente da consultoria norte-americana Digital Daya aponta que, dos 164 países das Nações Unidas, 24 tem seus líderes presentes no Twitter. No Brasil, os políticos têm usado essas e outras redes sociais para fazerem sua campanha em 2010, além de outras ações de marketing digital. A tendência é que encontremos uma certa variedade de ações este ano, inspiradas tanto em cases de sucesso de empresas que trabalham suas marcas nas mídias sociais, quanto estratégias adotadas por políticos de fora do Brasil.

Nesse aspecto, o sucesso da campanha online de Barack Obama tem sido um dos modelos utilizados como base para a formatação de campanhas digitais brasileiras, pois é um case de muito sucesso. Ele serve de exemplo para praticamente toda ação, seja ela política ou para os negócios, mas Obama não fez nada sozinho. Ele investiu pesado nas redes, contando com uma equipe de 40 pessoas, dentre elas excelentes estrategistas digitais, já habituados com as redes e o comportamento dos usuários nelas.

Além disso, a campanha mobilizou as pessoas em torno de uma causa e, então, fortaleceu uma rede de apoiadores. Obama ressaltou o poder do voluntariado e mostrou como mover as pessoas em torno de algo que elas acreditam. Ele atentou para essa verdade: aqueles que acreditam na própria marca, disseminarão o conteúdo por vontade própria e alcançarão cada vez mais um número maior de pessoas.

Seguindo modelos ou criando novas estratégias, a regra mais importante e básica para se atuar nas mídias sociais é: você precisa estar disposto a ouvir as pessoas, receber suas críticas, e se comunicar com elas de forma mais transparente. Quando você entende o que o seu público quer e ele enxerga em você como algo de bom, que não quer apenas vender, mas estar junto dele, participando e, muito importante, respondendo suas dúvidas, é muito mais fácil chegar a ele e criar uma conexão, um vínculo.

As mídias sociais trouxeram esta comunicação de mão dupla de uma forma que ela já não pode mais ser ignorada, as pessoas hoje exigem isso. É preciso entender isso e mudar o modelo de pensamento, principalmente no caso dos políticos, que precisam ter a população junto deles, acreditando e apoiando seu trabalho.

É importante lembrar que tudo ainda é recente quando o assunto é mídias sociais, portanto, nada melhor do que experimentar. Ninguém sabe tudo sobre o marketing na internet, mas aqueles que o conhecem a fundo sabem que, após compreender bem o ambiente digital, é necessário fazer testes – mas testes conscientes.

*Andrea Dunningham é jornalista e diretora do iDigo – Núcleo de Inteligência Digital, que promove o curso “Campanha política na Web – O que considerar na hora de montar a sua plataforma digital”, no dia 14 de maio, no Rio de Janeiro.

1 de maio de 2010

MORRENDO PELA BOCA


Alimentos contaminados

por Silvio Caccia Bava

O Brasil é o maior mercado de agrotóxicos do mundo e representa 16% da sua venda mundial. Em 2009, foram vendidas aqui 780 mil toneladas, com um faturamento estimado da ordem de 8 bilhões de dólares. Ao longo dos últimos 10 anos, na esteira do crescimento do agronegócio, esse mercado cresceu 176%, quase quatro vezes mais que a média mundial, e as importações brasileiras desses produtos aumentaram 236% entre 2000 e 2007. As 10 maiores empresas do setor de agrotóxicos do mundo concentram mais de 80% das vendas no país.
Esses produtores viram ameaçadas suas novas metas de faturamento com o anúncio da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de que se propõe a reavaliar o uso de 13 produtos agrotóxicos, vários deles já proibidos há anos nos EUA, na União Europeia, e em países como Argentina, Nigéria, Senegal, Mauritânia, entre outros, como o acefato e o endossulfam. Os motivos dessa proibição são evidentes, a contaminação de alimentos, de trabalhadores rurais, e do meio ambiente, causando, literalmente, o envenenamento dos consumidores, a morte de trabalhadores rurais e a destruição da vida animal e vegetal.
Em solicitação ao Ministério Público para a proibição de um desses agrotóxicos – o Tamaron – os então deputados federais Fernando Dantas Ferro, Adão Preto e Miguel Rosseto denunciam que 5 mil trabalhadores rurais morrem, a cada ano, intoxicados por venenos agrícolas, sendo que muitos mais são afetados de maneira grave pela ingestão dos componentes químicos desses produtos.
Frente à disposição da Anvisa de reavaliar produtos como Gramoxone, Paraquat, Tamaron, Mancozeb, Monocrotfos, Folidol, Malation e Decis, o Sindag – Sindicato das Indústrias de Defensivos Agrícolas – recorreu ao Judiciário, solicitando que não sejam publicados os resultados das reavaliações. Houve mesmo iniciativas no Judiciário que pretendiam proibir os estudos da Anvisa que verificavam a segurança das substâncias de 99 agrotóxicos.
O fato é que o setor ruralista, com o Ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes à frente, a bancada ruralista e os fabricantes de agrotóxicos se puseram a campo contra a iniciativa da Anvisa, e mesmo contra a própria Anvisa e o seu papel fiscalizador. Segundo documento obtido pela ABRANDH – Ação Brasileira pela Nutrição e Direitos Humanos, o Ministério da Agricultura quer ser o responsável pela avaliação e registro dos produtos agrotóxicos.
Para Rosany Bochner, especialista em toxicologia da Fiocruz, instituição parceira da Anvisa no trabalho de reavaliação dos agrotóxicos, “o Brasil está virando um grande depósito de porcarias. Os agrotóxicos que as empresas não conseguem vender lá fora, que têm indicativo de problemas, são empurrados para a gente”.1
Em 2002, com o início do funcionamento do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos, coordenado pela Anvisa, surgiram informações preocupantes. Das 1.198 amostras recolhidas em nível nacional, 17,28% apresentavam índices de contaminação acima do permitido para se preservar a saúde. O tomate, o morango e a alface são os mais contaminados. Se você come amendoim, batata, brócolis, citros, couve, couve-flor, feijão, melão, pimentão, repolho, entre outros alimentos, cuidado! Eles contêm acefato, um agrotóxico que pode causar danos ao cérebro e ao sistema nervoso e provocar câncer no longo prazo. O acefato é proibido em toda a União Europeia.
Segundo o IDEC – Instituto de Defesa do Consumidor, “o consumidor brasileiro está exposto a um risco sanitário inaceitável, que exige medidas rigorosas dos órgãos governamentais responsáveis, inclusive com a punição dos infratores”.
Essa denúncia decorre do levantamento e análise da Anvisa, feito de junho de 2001 a junho de 2002, onde nada menos que 81,2% das amostras analisadas (1051 casos) exibiam resíduos de agrotóxicos e 22,17% apresentavam índices que ultrapassavam os limites máximos permitidos.
Atualmente os agrotóxicos estão em reavaliação tanto pela Anvisa, quanto pelos Ministérios da Saúde e Meio Ambiente. E espera-se que até o final do ano seja divulgada uma nova lista dos agrotóxicos que podem continuar sendo vendidos e os que serão banidos do território brasileiro.
Ainda não existe uma ação integrada desses organismos públicos responsáveis por essa tarefa de fiscalização, mas segundo Agenor Álvares, diretor da Anvisa, a integração é algo indispensável, até para enfrentar a proposta do setor ruralista, que é inaceitável.


Silvio Caccia Bava é coordenador geral do Instituto Pólis.