Como vimos, durante o primeiro ano do governo Obama, não aconteceu um fracasso, como praguejava a direita americana, que apresentava o presidente americano como um socialista desejoso por um Estado controlador da economia. Nem ocorreu a grande mudança que a esquerda liberal acreditava, isto é: fim da guerra do Iraque e Afeganistão; fim da prisão de Guantânamo; super-regulação do sistema financeiro; grandes mudanças na política ambiental etc.
O primeiro ano de Obama foi determinado pela urgência no controle da pior crise financeira depois da década de 1930. A necessidade de estancar a sangria do sistema financeiro, com injeção de centenas de bilhões de dólares no mercado e a compra de parte das ações de instituições financeiras importantes, como o Citicorp e a companhia de seguros AIG. No campo da reforma do sistema de saúde, o governo conseguiu aprovar um projeto no Senado e outro na Câmara, que ainda dependem de uma conciliação entre eles. Estes projetos buscam estender o sistema de saúde para os cerca de 15% da população, que não conta com nenhuma cobertura.
Na área internacional, o governo Obama começou a reduzir a presença americana no Iraque e a reforçar a presença no Afeganistão e Paquistão (base da Al Qaeda). De alguma forma conseguiu reduzir a pressão armamentista da Coréia do Norte. Quanto à América Latina, não houve grandes avanços nas relações comerciais. Com referência ao Oriente Médio, também não houve avanços significativos.
Embora a situação da economia americana já comece a mostrar seus primeiros sinais de recuperação, a situação do emprego ainda continua ruim. Isto é natural: primeiro, as empresas buscam esgotar sua capacidade produtiva com o uso do atual quadro de funcionários, para depois começarem a contratar mais pessoas. No segundo semestre de 2010, a situação do emprego nos Estados Unidos começará a melhorar.
Agora, no entanto, o presidente Obama está no seu pior momento: por um lado teve que gastar uma montanha de dinheiro para socorrer o mercado financeiro (medida impopular) e, por outro, o americano médio continua sem emprego (situação mais impopular ainda).
Assim como em um navio, entre o comando de mudança de direção e a própria mudança de direção, vai um tempo (há uma inércia). Porém, quando o comando já foi dado, é certo que o navio vai obedecer e mudar de direção. A popularidade de Obama deverá começar a melhorar no segundo semestre deste ano. O problema é aguentar até lá. Em janeiro, o partido democrata foi vencido em uma eleição certa para senador em Massachussetts. Com isso, o governo Obama perdeu a maioria qualificada que tinha no Senado, o que dificulta a consolidação da reforma da saúde no Congresso. A recondução de Bernanke para o FED (Banco Central americano) passou raspando. A proposta por revisões na área de atuação dos bancos recebeu críticas de todo o lado.
Precipitaram-se os que viam em Obama um demagogo inexperiente, mas também precipitaram aqueles que o viam como um revolucionário reformador. Além de Obama não ser nenhum nem outro, o próprio sistema político americano também não permitiria tais excessos.
Neste momento, a principal qualidade política de Obama, a frieza, passou a ser mais necessária do que nunca. Somente o tempo pode ajudar o presidente a recuperar sua popularidade. Enquanto isso é necessário driblar as críticas e fingir que os ataques não atingem o presidente e sim são fruto do descontentamento resultante da crise herdada do governo Bush.
Mesmo com todos os problemas enfrentados, ou justamente por isso, é que podemos dizer que o primeiro ano de Obama foi bastante bom, e esperamos que os próximos sejam melhores ainda. O mundo precisa disso.
* Alcides Domingues Leite Junior é professor de economia e mercado financeiro da Trevisan Escola de Negócios.
E-mail: alcides.leite@trevisan.edu.br
O primeiro ano de Obama foi determinado pela urgência no controle da pior crise financeira depois da década de 1930. A necessidade de estancar a sangria do sistema financeiro, com injeção de centenas de bilhões de dólares no mercado e a compra de parte das ações de instituições financeiras importantes, como o Citicorp e a companhia de seguros AIG. No campo da reforma do sistema de saúde, o governo conseguiu aprovar um projeto no Senado e outro na Câmara, que ainda dependem de uma conciliação entre eles. Estes projetos buscam estender o sistema de saúde para os cerca de 15% da população, que não conta com nenhuma cobertura.
Na área internacional, o governo Obama começou a reduzir a presença americana no Iraque e a reforçar a presença no Afeganistão e Paquistão (base da Al Qaeda). De alguma forma conseguiu reduzir a pressão armamentista da Coréia do Norte. Quanto à América Latina, não houve grandes avanços nas relações comerciais. Com referência ao Oriente Médio, também não houve avanços significativos.
Embora a situação da economia americana já comece a mostrar seus primeiros sinais de recuperação, a situação do emprego ainda continua ruim. Isto é natural: primeiro, as empresas buscam esgotar sua capacidade produtiva com o uso do atual quadro de funcionários, para depois começarem a contratar mais pessoas. No segundo semestre de 2010, a situação do emprego nos Estados Unidos começará a melhorar.
Agora, no entanto, o presidente Obama está no seu pior momento: por um lado teve que gastar uma montanha de dinheiro para socorrer o mercado financeiro (medida impopular) e, por outro, o americano médio continua sem emprego (situação mais impopular ainda).
Assim como em um navio, entre o comando de mudança de direção e a própria mudança de direção, vai um tempo (há uma inércia). Porém, quando o comando já foi dado, é certo que o navio vai obedecer e mudar de direção. A popularidade de Obama deverá começar a melhorar no segundo semestre deste ano. O problema é aguentar até lá. Em janeiro, o partido democrata foi vencido em uma eleição certa para senador em Massachussetts. Com isso, o governo Obama perdeu a maioria qualificada que tinha no Senado, o que dificulta a consolidação da reforma da saúde no Congresso. A recondução de Bernanke para o FED (Banco Central americano) passou raspando. A proposta por revisões na área de atuação dos bancos recebeu críticas de todo o lado.
Precipitaram-se os que viam em Obama um demagogo inexperiente, mas também precipitaram aqueles que o viam como um revolucionário reformador. Além de Obama não ser nenhum nem outro, o próprio sistema político americano também não permitiria tais excessos.
Neste momento, a principal qualidade política de Obama, a frieza, passou a ser mais necessária do que nunca. Somente o tempo pode ajudar o presidente a recuperar sua popularidade. Enquanto isso é necessário driblar as críticas e fingir que os ataques não atingem o presidente e sim são fruto do descontentamento resultante da crise herdada do governo Bush.
Mesmo com todos os problemas enfrentados, ou justamente por isso, é que podemos dizer que o primeiro ano de Obama foi bastante bom, e esperamos que os próximos sejam melhores ainda. O mundo precisa disso.
* Alcides Domingues Leite Junior é professor de economia e mercado financeiro da Trevisan Escola de Negócios.
E-mail: alcides.leite@trevisan.edu.br
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