7 de novembro de 2009

O CAMINHO PERIGOSO DA ACIC


Em seus 50 anos de existência, a ACIC (Associação Comercial e Industrial de Cascavel) sempre refletiu o crescimento da cidade. Muitas pessoas destacadas do mundo empresarial participaram e por vezes assumiram o cargo de presidente da entidade. Neste período, grandes vitórias passaram pela comunhão de forças através dela. No mesmo trajeto, alguns membros da associação tornaram-se também políticos. Porém, via de regra, a ACIC utilizou-se ao longo dos anos da filosofia da neutralidade político-partidária.
Atualmente a entidade tem tomado decisões ambíguas, e vale refletir se elas realmente vão de encontro aos interesses da comunidade. Creio que estas decisões não são de fato a posição de todos os associados da ACIC, mas apenas de seus dirigentes. É o caso da nomeação de seu vice-presidente André Bueno, que por tradição deverá suceder o atual presidente. O que será que pensam disso os empresários, sendo que muitos deles são inclusive militantes de siglas opostas àquela representada pelo filho do prefeito? É fácil deduzir, basta sentir o desconforto que o assunto gera no meio empresarial.
A Associação Comercial foi berço de uma entidade supostamente independente chamada Observatório Social. A experiência, copiada de Maringá, tem por finalidade fiscalizar de forma independente as contas do poder publico municipal. A idéia seria louvável, mas tem um porém: O Observatório está localizado dentro da ACIC, que além de abrigá-lo, ainda paga as contas de seu funcionamento. É de se perguntar – Será que o observatório, tendo o filho do prefeito como um dos seus dirigentes, realmente fiscaliza as contas da prefeitura, ou as avaliza? A questão da elevação brusca do preço do Teatro Municipal, por exemplo, cujas mudanças no projeto nos parecem apenas vaidade do prefeito, mas que o povo todo paga, não seria motivo de um posicionamento firme por parte do observatório social?
A ACIC se esforçou durante anos pela campanha do voto útil. Quando a entidade convidava os candidatos a deputados para expor suas idéias, estes eram invariavelmente questionados se iriam usar o cargo para concorrer às eleições municipais. Em caso positivo, teriam a desaprovação. Dois anos depois a entidade simplesmente esqueceu o próprio discurso, jogando por terra um projeto no momento em que ele começava a dar frutos.
A Associação tem sido catalisadora das grandes bandeiras de Cascavel e do Oeste, até ai ela cumpre seu papel. O problema é que às vezes a entidade acaba por vender a imagem que foi “pai e a mãe” da criança, fazendo certo monopólio que acaba inibindo as iniciativas. Nas grandes conquistas, a ACIC apenas reconhece seus verdadeiros mentores se lhe convier.
Um dos casos recentes é a execução do Contorno Oeste, projeto que estava engavetado há quase duas décadas, embora fosse uma bandeira de todos, inclusive da ACIC. Hoje é uma realidade porque a gestão municipal anterior tomou para si a tarefa de gerenciar o projeto e costurar com as forças políticas e empresariais de diferentes matizes a realização da obra.
A Associação Comercial e Industrial, cujo discurso é de neutralidade política, conseguiria isto? Como pode ser neutra politicamente se escalou como seu vice o filho do prefeito, especialmente depois que o pai havia declarado a intenção de torná-lo deputado estadual? A ACIC precisa ser revista, e isto deve ser feito pelo bem do mundo empresarial e de toda comunidade, pois hoje ela se tornou ninho da política partidária, e seu partido atual é o “PEB”.


- Marcos Piaia é jornalista e ex-diretor de Comunicação da Prefeitura de Cascavel

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