27 de janeiro de 2010

BAIXARIA POLARIZADA



Terminamos a semana passada digerindo as sequelas da baixaria protagonizada por dois grupos que monopolizam o poder há quase duas décadas. Acostumados a ditar o tom na democracia representativa, petistas e tucanos quebraram o silêncio e mostraram ao eleitor o que será a campanha eleitoral de outubro próximo, ou seja, um circo de horrores, com direito a ataques gratuitos e maliciosos.
Utilizando-se dos mesmos artifícios, PT e PSDB trataram de dar um viés plebiscitário às eleições, que não passará de uma “grande enquete”, um acerto de contas entre dois governos com muitas similaridades e com discursos que se unem, ainda que ambas as militâncias insistam em dizer o contrário.
Numa tentativa de ficarem alheios ao tiroteio, o presidente Lula (corintiano sofredor) e o governador de São Paulo, José Serra (palmeirense da Moca) trocaram “gracejos”, batendo um papo sobre futebol, numa tentativa de disfarçar o clima ríspido entre as cúpulas partidárias.
A guerra extemporânea entre a oposição e governo tem o objetivo de medir força para ver quem será o próximo grupo que irá conduzir nossos destinos, nessa alternância entre duas siglas campeãs em desqualificar o rival, em fazer o embate pelo embate, mas que encontram dificuldades imensas em pensar um novo modelo de desenvolvimento ao País.
A campanha ficará esvaziada por essa queda de braço, que se resumirá em ambos dizerem o que fizeram e o que os outros deixaram de fazer, em seus respectivos oito anos.
Esse monopólio de poder não passa do fiel retrato de um sistema partidário falido, que tem mais de duas dezenas de siglas, mas, que em virtude do fisiologismo, concentra o poder em duas grandes empresas, que fazem do governo uma peteca a ser jogada pelas mãos de petistas e tucanos.
A crítica não deve se restringir ao PSDB e ao PT, pois os demais são submissos a cargos e projetos pessoais, abdicam de disputas e não passam de balcões de negociata.
O “tucanato” e o “estrelato” são irmãos separados no nascimento, ainda que o PT encha o peito para dizer que é esquerda, acreditando ser ‘revolucionário’, mesmo compactuando com cidadãos como Collor e Sarney, e o PSDB, do alto de seu egocentrismo, acredite ser o supremo arauto da moral e vanguarda da social democracia.
As semelhanças são grandes, o PT foi oposição ferrenha durante oito anos, que tudo sabia e tinha a ‘fórmula mágica da paz’, parafraseando os Racionais. Depois, os tucanos viraram oposição, não tão ferrenha, pois não têm militância e tampouco capacidade para isso. Ambos rechaçaram a corrupção, mas a praticaram, além de prometerem muita coisa que puderam cumprir.
Petistas e tucanos vivem como nos anos 70, quando apenas duas agremiações, Arena e MDB, monopolizavam disputas por um ‘poder falseado’ que era permitido pelos militares. Hoje, eles vivem dentro de seu bipartidarismo fisiológico, do egocentrismo de quem quer sempre ditar o tom do “nosso parlamento às avessas”. Enfim, apesar das origens diferentes, ambos representam a lógica burguesa, ainda que se disfarcem de estadistas. São irmãos que se ofendem, mas que têm características em comum, e, a principal delas é uma sede de poder que beira a loucura.


Júlio César Carignano
Editorial Gazeta do PR (24-01-10)

DESTRO & MENIN – MENIN & DESTRO


Na última terça-feira, durante churrasco regado a cerveja e discursos, na chácara do empresário Moacir Arpine (Cobrão Pneus), o empresário João Destro (JD Home Center) admitiu estar a um passo da candidatura a deputado federal pelo PPS. “Já conversei com a família e estou avaliando esta possibilidade de me desligar dos negócios. Estou com muita vontade. Vamos ver se até a semana que vêm eu posso dizer em definitivo se serei ou não candidato. Tenho ainda que fazer ajustes de ordem particular, mas se for podem ter certeza que irei com tudo”, disse Destro para a alegria de Chico Menin, pré-candidato a deputado estadual e para a cúpula do PPS que não para de ganhar adeptos.

ENCORPADO
A eventual candidatura de Destro a federal deve dar a estrutura que falta a candidatura de Chico Menin para deputado estadual e faz o PPS sonhar com a possibilidade de renascer das cinzas e eleger uma dobradinha puro-sangue em Cascavel. No churrasco de ontem, desfilavam figuras importantes do mundo empresarial e da política. Entre eles, Sergio Terres, Roberto Aoki, Arnold Lamb, o ex-vereador Soni Lorenzi, Jeová Pereira e Bacana, entre outros.

LANÇAMENTO
O PPS realiza no próximo dia 26 de fevereiro, após o carnaval encontro regional para o lançamento das duas candidaturas (Menin e Destro). O evento, deverá contar com a presença de lideranças regionais e inclusive o prefeito de Curitiba Beto Richa, que cogita-se seja o candidato a governador pelo PSDB. Nos bastidores, há quem ateste que a motivação para Destro entrar de corpo e alma na política tem um dedo do prefeito Beto Richa. Um dedo bem escondido para que o deputado Alfredo Kaefer não perceba, dizem os maledicentes.

OPINIÃO - ROTEIRO PARA O AUTORITARISMO


Editorial publicado pelo Estadão de São Paulo, no último dia 10 de janeiro, analisa o Decreto nº 7.037, de 21 de dezembro - aquele que o presidente Lula jura que assinou sem ler. Como diz aquela velha máxima popular, "escreveu não leu, o pau comeu".


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou em dezembro um roteiro para a implantação de um regime autoritário, com redução do papel do Congresso, desqualificação do Poder Judiciário, anulação do direito de propriedade, controle governamental dos meios de comunicação e sujeição da pesquisa científica e tecnológica a critérios e limites ideológicos. Tudo isso está embutido no Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), instituído pelo Decreto nº 7.037, de 21 de dezembro - o tal decreto que, acredite quem quiser, o presidente disse que assinou sem ler. O programa, um calhamaço de 92 páginas, é um assustador arremedo de constituição. Recobre assuntos tão variados quanto a educação, os serviços de saúde, a Justiça, as condições de acesso e de preservação da propriedade, as decisões de plantio dos agricultores, a atividade legislativa, as funções da imprensa e o sentido do desenvolvimento.A apuração das violências cometidas pelos agentes do regime militar e a revogação da Lei da Anistia são apenas uma parte desse programa - a mais divulgada, até agora, por causa da reação dos comandantes militares à redação inicial do decreto. Mas o maior perigo não está nos detalhes, e sim no objetivo geral dessa manobra articulada no Palácio do Planalto: a consolidação de um populismo autoritário sustentado na relação direta entre o chefe do poder e as massas articuladas em sindicatos, comitês e outras organizações "populares".Tal como seu colega Hugo Chávez, o presidente Lula propõe a valorização de instrumentos como "lei de iniciativa popular, referendo, veto popular e plebiscito". É parte do populismo autoritário a conversão de formas excepcionais de consulta em meios normais de legislação. Usurpa-se o poder de legislar sem ter de recorrer a um golpe aberto. Da mesma forma, a multiplicação de "conselhos de direitos humanos", com ação coordenada "nas três esferas da Federação", reproduz a velha ideia de comitês populares tão cara às ditaduras.Consumada a mudança, um juiz não mais poderá simplesmente determinar a reintegração de posse de um imóvel invadido. O governo propõe "institucionalizar a utilização da mediação como ato inicial das demandas de conflitos agrários e urbanos, priorizando a realização de audiência coletiva com os envolvidos, com a presença do Ministério Público, do poder público local, órgãos públicos especializados e Polícia Militar". Em outras palavras: esqueça-se a Constituição, negue-se ao juiz o poder de garantir a propriedade e converta-se o invasor em detentor de direitos sobre o imóvel invadido.Combater essa aberração não interessa apenas a fazendeiros e proprietários. A questão essencial não é o conflito entre ruralistas e defensores da reforma agrária a qualquer custo, mas a depreciação da lei e do Judiciário tal como deve operar no Estado de Direito. Nada ficará fora do controle do assembleísmo. É parte do programa "fomentar o debate sobre a expansão de plantios de monoculturas que geram impacto no meio ambiente e na cultura dos povos e comunidades tradicionais, tais como eucalipto, cana-de-açúcar, soja", etc.A criançada ficará sujeita, nas escolas, a uma instrução sobre direitos humanos moldada segundo os interesses do regime e apresentada muito claramente no decreto. O controle sobre as mentes não poderá dispensar o comando dos meios de comunicação. Se as leis propostas forem aprovadas, o governo poderá suspender programações e cassar licenças de rádios e de televisões, quando houver "violações" de direitos humanos. Será criado um ranking nacional de veículos de comunicação, baseado em seu "comprometimento" com os direitos humanos. O governo também deverá incentivar a produção de filmes, vídeos, áudios e similares voltados para a educação sobre direitos humanos e para a reconstrução "da história recente do autoritarismo no Brasil". Será um autoritarismo cuidando da história de outro.As intenções políticas são claras, embora escritas numa linguagem abstrusa. Em todo o texto há expressões do tipo "fortalecimento dos direitos humanos como instrumento transversal das políticas públicas e de interação democrática". Essa patacoada deverá servir de bandeira na campanha da candidata petista à Presidência. Em 2002, esse era o programa do PT. Para se eleger, o candidato Lula teve de renegá-lo em sua "Carta aos brasileiros". Mas não renegou, como se vê mais uma vez, o sonho de "mudar tudo isso que está aí".